quarta-feira, outubro 25, 2006

31 anos da morte do Vlado

Hoje, 25 de outubro, é o 31º aniversário da morte de Vladimir Herzog (ou Wlademir, como alguns setores da Faculdade insistem em escrever em cartas e comunicados). Segue um texto do Frei Betto, publicado ano passado na Folha, disponível na biblioteca do site do MST.

Herzog, memória subversiva25/10/2005
Por Frei BettoFonte Folha de S.Paulo
São 30 anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog pela ditadura militar. A foto é nítida em minha memória: a cabeça pendente, o pescoço asfixiado, o corpo derramado rente à parede. E eles supunham que tinham todo o poder. Poder sobre a vida dele e sobre a nossa memória, essa obcecada ilusão que produz no poder uma cegueira onipotente, tão bem descrita por Primo Levi.
Herzog, convocado a prestar declarações em outubro de 1975 numa dependência militar de São Paulo qualificada por seus algozes de "sucursal do inferno" (o mesmo centro de tortura no qual frei Tito de Alencar Lima entrou lúcido, em 1970, e saiu tomado pela loucura que o levou à morte quatro anos depois), não tinha as respostas que eles queriam.
Eis o que mais irrita o torturador, induzindo sua mente mórbida a produzir a adrenalina da crueldade: o interrogado não ter as respostas que ele espera escutar. Então a sevícia produz a dor, e a dor, a ruptura que torna o corpo inimigo do espírito. O réu é convocado a testemunhar o próprio opróbrio, o que Tomás de Aquino considera maior crime que o homicídio.
Herzog seria mais uma entre tantas vítimas suicidadas no calabouço da ditadura. Prova disso é que sua morte não inibiu os assassinos. Pouco depois, no mesmo centro de tortura da rua Tutóia, morreria Manoel Fiel Filho.
Todo poder detém o monopólio da violência. Mas, quando não há nenhum outro poder que lhe imponha limites, como ocorre nas ditaduras, a violência extravasa do corpo da lei para o capricho necrófilo do algoz. As regras do direito são subvertidas pela impunidade que protege a ação direta de quem age em nome do Estado.
Frente ao torturador, o silêncio da vítima é suprema provocação. A desinformação, menosprezo à sua suposta inteligência. Fera indomável, necessita de carne viva para saciar-lhe o apetite insano. Quer nomes, endereços, denúncias. Sua auto-estima se alimenta da degradação do preso. Sua vida se afirma na morte alheia. O silêncio definitivo. Depois, um pretexto (suicidou-se...), um atestado de óbito, um enterro discreto. Ou clandestino, como de tantos cujas famílias aguardam, ainda hoje, o paradeiro de seus entes queridos.
Pensavam que, com o tempo, tudo cairia no olvido. Com a anistia, o passado não retornaria como os fantasmas de Shakespeare. Ora, sentimentos não têm cronologia. Pergunte-se à mãe que perdeu o filho há 20 ou 30 anos. O que se ama eterniza-se.
O caso Herzog tornou-se emblemático, símbolo da luta contra o arbítrio e a injustiça. Morto, ele incomoda os vivos. Porque a nação ainda não acertou contas com esse passado recente, cujos protagonistas ocupam, ainda hoje, lugar de destaque na política nacional e posam de paladinos da democracia, tantos anos depois de terem decidido mandar às favas os escrúpulos.
Os crimes praticados pela ditadura militar são indenizados. Nunca apurados. Furaram os olhos da Justiça, mas não lhe ensurdeceram nem lhe apagaram a memória. 30 anos depois, Vladimir Herzog é um cadáver insepulto, subversivo, paradigmático. Tratado como verme numa dependência policial-militar, figura para sempre na galeria dos heróis e mártires brasileiros.
Recordar não é vingar. Rogo a Deus que jamais me permita fazer ou mesmo acontecer a meus torturadores o que fizeram a mim. Não há nisso nenhuma virtude. Apenas o cuidado de preservar minha humanidade. Por isso jamais entrei no Ministério da Justiça com pedido de indenização. Respeito os que o fizeram, mas me recuso a admitir que uma questão moral tenha tabela de preço.
Após quatro anos de cárcere, ainda hoje ouço a pergunta quanto aos meus sentimentos. Respondo ter aprendido a não odiar os meus algozes. Não por mérito, mas por descobrir, ali dentro, que o ódio destrói primeiro quem odeia, e não quem é odiado. Pelo lado paterno, tenho vários militares no álbum familiar. Meu pai, filho de militar, tinha um irmão general e também um primo.
Como descreve Érico Veríssimo em "Solo de Clarineta", enquanto nossos mortos não merecerem um enterro digno, continuarão vivos em nossa indignação. Então é preciso que se saiba por que, como, onde e quando foram assassinados. Abra o governo os arquivos da ditadura. Quem teme a história cobre-se de vergonha. Aprenda a lição das vítimas do nazismo: 60 anos depois, o holocausto é ontem.
Em um mundo que gasta, por ano, cerca de US$ 1 trilhão em produtos bélicos e menos de 10% disso em cooperação internacional, Herzog interpela os nossos valores. Por que o cuidado da vida, dom maior de Deus, não supera o investimento na morte? Por que Bush, que preside o planeta, acredita que a paz será fruto da imposição das armas? Não teria Isaías maior razão ao afirmar, há 2.800 anos, que só haverá paz como fruto da justiça (32, 17)?

terça-feira, outubro 24, 2006

Resultado das eleições

As eleições tiveram o resultado previsível. O de continuidade. Se as eleições traziam perspectivas de mudanças pra alguém, pode tirar o cavalinho da chuva. Sem mudanças nas coordenadorias/diretoria a Cásper continua no rumo que está. Cursos de baixa qualidade, professores picaretas, aluno como cliente, "formação" apenas pro mercado e tudo mais que a Cásper tem de bom.

Se interessa pra alguém, ai vão os resultados.

DIRETORIA
Votaram 122 de 135

Tereza Vitali reeleita com 111 válidos e 10 brancos/nulos
vice: Welington Andrade (atual coord de jo) teve 102 válidos e 19 brancos/nulos

PÓS GRADUAÇÃO
votaram 20 de 23

Laan Mendes reeleito com 20 votos válidos
vice: não tem [O Dimas foi impugnado por não preencher os requisitos pra se candidatar]

CULTURA GERAL
votaram 27 de 30

Cláudio Arantes reeleito com 25 válidos e 2 brancos/nulos
vice: Luís Mauro teve 22 válidos e 5 brancos/nulos

RÁDIO E TV
votaram 16 de 19

Marco Vale reeleito com 14 válidos e 2 brancos/nulos
vice: Sabina Regiani teve 10 válidos e 1 nulo
Magaly Prado foi a outra candidata a vice, teve 5 votos

TURISMO
votaram 16 de 19

Olga Tulik reeleita com 12 válidos
vice: Reinaldo Miranda teve 11 mais 1 em branco

JORNALISMO
votaram 25 de 27

Carlos Costa (atual vice) foi eleito com 24 válidos mais 1 nulo
vice: não há [Regina Soler foi impugnado por não preencher os requisitos]

RELAÇÕES PÚBLICAS
votaram 21 de 23

Tânia Baitello (atual vice) foi eleita com 15 válidos e 1 branco
vice: Júlio Barbosa (atual coord) foi eleito com 18 válidos mais 3 brancos
havia concorrência pra o cargo de coordenador, Maurício Marra teve 5 válidos

PUBLICIDADE
votaram 23 de 25

Vilma Schatzer (atual vice) foi eleita com 21 votos e 2 nulos
vice: Rodney Nascimento (atual coordenador) teve 21 válidos e 2 nulos


Eles tomam posse em primeiro de março.


quarta-feira, outubro 18, 2006

Semana Nacional da Democratização da Comunicação

sábado, outubro 14, 2006

CARTA ABERTA DO CAVH AOS PROFESSORES

Quando ia conhecer um funcionário público encarregado da questão judaica no regime nazista, Hanah Arendt esperava encontrar um monstro. Surpreendeu-se ao encontrar um homem comum, não passava de um pacato servidor público disposto a não pensar, a não elaborar, disposto somente a cumprir ordens a qualquer preço. Enfim, um produto típico do Estado totalitário.
É triste constatar que muitos dos nossos professores aceitam ser um produto não pensante do regime totalitário que há muito vigora na Cásper Líbero, e que fica explícito nas “eleições” desse dia 17. A não ser por total desinteresse sobre os rumos tomados pela instituição da qual são parte fundamental, como explicar que nossos mestres votem calados numa eleição previamente definida, com votos submetidos a uma lista tríplice, numa eleição em que a única candidata em momento algum se dignou a apresentar aos alunos e professores suas propostas, ou um projeto de gestão da Faculdade para os próximos quatro anos - resumindo, uma eleição que contraria todo e qualquer princípio de democracia que eles mesmos muitas vezes apresentam em aula.
Segundo o historiador Cornelius Castoriadis, na medida em que uma instituição ganha força ela começa a se autonomizar, e é nesse momento que vem a alienação. A instituição passa a se deslocar da sociedade em que se insere, a sociedade não mais reconhece na instituição seu próprio produto. Não há como contestar que seja exatamente este o quadro atual da Faculdade Cásper Líbero. Alunos e professores não podem se reconhecer no modelo de faculdade existente simplesmente pelo fato de que não têm nenhum poder para participar das decisões que os afetam diretamente – principalmente os alunos, que têm participação no máximo simbólica nas instâncias decisórias, como o CTA ou a inútil Congregação. A alienação é apenas uma triste conseqüência do modelo ditatorial que vigora desde sempre na Cásper.
Como representante dos alunos, o Centro Acadêmico Vladimir Herzog pede a vocês, professores, que aproveitem a farsa das eleições para refletirem se é este o modelo de faculdade do qual querem fazer parte, se a lição que querem nos dar é que permanecer em silêncio frente às injustiças é a melhor maneira de enfrentá-las.

terça-feira, outubro 03, 2006

nessa eleição aluno não vota

Não sei se vocês tão sabendo mas dia 17 de outubro vão rolar eleições pra Diretoria da Cásper. Mas não precisam se chocar com a ausência de projetos ou de discussão de idéias por parte da atual diretora e única candidata Tereza Vitali, uma vez que vocês - alunos - não participarão dessa eleição.

A eleição se dá no âmbito da Congregação, composto por cento e tantos professores e apenas três alunos. Mas esta composição desigual não é lá tão decisiva, já que todos esses escolhem não um mas TRÊS candidatos, a famigerada lista tríplice, e quem decide mesmo qual dos três será empossado é a Fundação. O bizarro é porque eles não escolhem logo qual querem, sem precisar dessa farsa ridícula a cada quatro anos.

Por isso a nós alunos cabe em primeiro lugar protestar. Em segundo lugar lutar pra que essa situação mude, através da reforma do regimento, que se inicia no fim de outubro. É o regimento que estabelece as regras das "eleições", e ele será reformado pelo CTA, outra instância ridicula em que os alunos tem um voto contra 12. Exatamente por isso, pelo poder ínfimo desse voto, é que precisamos nos mobilizar, reclamar, fazer barulho - nos fazer ouvir. Só assim poderemos conseguir que algo mude a partir da reforma. Se ninguém aparecer na porta da reunião, se ninguem protestar durante as eleições, aí sim é que eles montam mesmo na gente, mais ainda.

É muito comum reclamarmos e nos indignarmos - com razão - frente às atitudes dos políticos no Congresso e nas Câmaras que deveriam nos representar. Mas é também contestando as estruturas menores de poder que podemos exercer uma democracia que na prática parece existir cada vez menos. Que moral teremos pra cobrar a atuação dos nossos políticos se nos calarmos frente a uma demonstração tão explícita de autoritarismo e desprezo pelos princípios básicos da democracia como acontece no caso das "eleições" da Cásper?

Por isso, o Centro Acadêmico Vladimir Herzog convida vocês a comparecerem às reuniões dessa quinta feira, às 11:30 e 20:40, em nossa sala do 6º andar, para que decidamos a melhor maneira de nos fazer ouvir nesse momento.