sábado, outubro 14, 2006

CARTA ABERTA DO CAVH AOS PROFESSORES

Quando ia conhecer um funcionário público encarregado da questão judaica no regime nazista, Hanah Arendt esperava encontrar um monstro. Surpreendeu-se ao encontrar um homem comum, não passava de um pacato servidor público disposto a não pensar, a não elaborar, disposto somente a cumprir ordens a qualquer preço. Enfim, um produto típico do Estado totalitário.
É triste constatar que muitos dos nossos professores aceitam ser um produto não pensante do regime totalitário que há muito vigora na Cásper Líbero, e que fica explícito nas “eleições” desse dia 17. A não ser por total desinteresse sobre os rumos tomados pela instituição da qual são parte fundamental, como explicar que nossos mestres votem calados numa eleição previamente definida, com votos submetidos a uma lista tríplice, numa eleição em que a única candidata em momento algum se dignou a apresentar aos alunos e professores suas propostas, ou um projeto de gestão da Faculdade para os próximos quatro anos - resumindo, uma eleição que contraria todo e qualquer princípio de democracia que eles mesmos muitas vezes apresentam em aula.
Segundo o historiador Cornelius Castoriadis, na medida em que uma instituição ganha força ela começa a se autonomizar, e é nesse momento que vem a alienação. A instituição passa a se deslocar da sociedade em que se insere, a sociedade não mais reconhece na instituição seu próprio produto. Não há como contestar que seja exatamente este o quadro atual da Faculdade Cásper Líbero. Alunos e professores não podem se reconhecer no modelo de faculdade existente simplesmente pelo fato de que não têm nenhum poder para participar das decisões que os afetam diretamente – principalmente os alunos, que têm participação no máximo simbólica nas instâncias decisórias, como o CTA ou a inútil Congregação. A alienação é apenas uma triste conseqüência do modelo ditatorial que vigora desde sempre na Cásper.
Como representante dos alunos, o Centro Acadêmico Vladimir Herzog pede a vocês, professores, que aproveitem a farsa das eleições para refletirem se é este o modelo de faculdade do qual querem fazer parte, se a lição que querem nos dar é que permanecer em silêncio frente às injustiças é a melhor maneira de enfrentá-las.